Situado no primeiro pavimento, o Museu do Imperador, um espaço pouco citado na historiografia e conhecido como o gabinete de curiosidades do monarca, foi constituído de quatro salas com peças classificadas e apresentadas aos visitantes mais ilustres do palácio com direito à visita guiada pelo próprio imperador.
Destinado às ciências, à antigüidade, à diferentes civilizações, o Museu refletiu a preocupação de D. Pedro II em selecionar e preservar suas áreas de interesse: uma prática cultural relacionada à acumulação e preservação.
Tudo começou com a união do Gabinete de Mineralogia, Numismática e de um Herbário, todos herdados da Imperatriz Leopoldina, sua mãe. Durante a metade do século XIX, D. Pedro II foi acrescentando à coleção muitos objetos armazenados e recebidos dos distintos visitantes, desde viajantes, chefes de estados a naturalistas, além de peças trazidas de suas viagens. Seus objetos ilustravam a diversidade dos povos, fauna e flora dos diferentes continentes, conhecido por alguns naturalistas estrangeiros como um espaço das ciências, assim o imperador passou a chamar este espaço como “muzeu”.
Muitas peças foram enviadas por Ferdinando II, irmão de Thereza Cristina – esses objetos estão reunidos no acervo greco-romano existente na instituição com o nome de “Coleção Thereza Cristina”. A coleção era composta de objetos da Antigüidade Clássica que se estende desde o século VIII a.C. ao século III d.C. e também inclui escavações arqueológicas feitas pela imperatriz. Algumas das antiguidades de Pompéia e Herculano ficavam expostas na janela do museu.
Da esqueda para a direita: Escultura feminina sem cabeça; Caixão de Sha- Amun-en-su; Torá que pertenceu à D. Pedro II
Dentre outras relíquias provenientes do Egito Antigo, encontra-se a múmia de Sha-Amun-Em-Su, que data da XII dinastia – cerca de 750 a.C. Ela seria uma cantora do tempo de Amon. É curioso notar que a múmia se encontra em seu ataúde original, que está fechado. Foi enviada ao Brasil para D. Pedro II pelo quediva (vice-rei egípcio) Ismail Paxá, por ocasião de sua segunda visita ao Oriente.
Outro objeto curioso do Museu do Imperador é uma Torah distribuída em nove rolos de couro contendo textos bíblicos incompletos, escritos em hebraico, e que, ao que tudo indica, pertenceu ao imperador D. Pedro II. Atualmente os rolos encontram-se guardados no cofre da direção.
Além de receber materiais de intercâmbios institucionais, D. Pedro II recebeu doações de particulares, como foi o caso do conjunto mumificado de corpos indígenas, descoberto na Cidade de Rio Novo, no interior de Minas Gerais. É composto por um indivíduo adulto de 25 anos de idade e duas crianças. A múmia indígena encontra-se, atualmente, na área pré-colombiana da Exposição Permanente do Museu Nacional.
Na área etnográfica, encontramos estudos sobre o índio brasileiro, que se tornou um símbolo relacionado à nacionalidade durante o romantismo. Por isso, o monarca realizou estudos sobre as línguas Tupi e Guarani, o que fortaleceu sua curiosidade em relação aos povos “primitivos”. O imperador colecionava considerável quantidade de peças, como as flechas dos índios Yumá, e inclusive, emprestou parte de sua coleção etnográfica para ser exposta na Exposição Etnográfica do Museu Nacional em 1882. Alguns artefatos que figuraram no museu do monarca se encontram guardados no Setor de Etnografia do Museu Nacional.
Mas o objeto que provoca maior curiosidade presente ao Museu do Imperador fora, com toda a certeza, a cabeça reduzida de um guerreiro Jívaro (tribo que vivia na região do Equador): ela é tão pequena quanto a de um recém- nascido. Ficou assim por causa de uma cerimônia do povo chamada tsansa, que se iniciava após o término de um combate e consistia em reduzir a cabeça do inimigo, independentemente do sexo. Atualmente, está localizada no Setor de Exposições Pré-colombianas.
Da esqueda para a direita: Cabeça mumificada produzida pelos Shuar (Jivaro); Cratera em sino, italiota; Asteraceae, espécie da coleção de plantas da Família Imperial
No Museu do Imperador, uma sala específica abrigava o seu herbário, contendo poucas mobílias e uma coleção de espécimes coletadas pelo naturalista Carl Friedrich von Martius, que muito contribuiu para a catalogação da flora brasileira.
O Museu do Imperador foi importante, inclusive, por ter motivado o diretor Ladislau Netto à solicitar às autoridades a construção de via férrea para transferir o acervo do museu do monarca do Paço de São Cristóvão para o Museu Nacional (no Campo de Santana), após o banimento da Família Imperial em 1889. Com a finalização da via, Ladislau Netto fez o caminho inverso e transferiu o Museu Nacional do Campo de Santana para o Paço de São Cristóvão e a Instituição se apropriou da residência e do Museu do Imperador.
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