Este projeto visa identificar e pesquisar as espécies plantadas por Auguste Glaziou na Quinta da Boa Vista que, outrora, foi uma bucólica fazenda na região periférica da Cidade do Rio de Janeiro e que passa a ser a residência da família Real.
O Parque da Quinta da Boa Vista está localizado na zona Norte da Cidade do Rio de Janeiro, no Bairro Imperial de São Cristóvão. É um dos maiores parques urbanos do Rio, possui grande valor paisagístico-histórico e é muito frequentado tanto por crianças como por adultos.
No chão, próximo a cada árvore encontra-se colocado um totem com uma placa de metal gravada com os nomes populares da espécie, seguido do nome específico e o nome da família botânica.
Para maior ciência e aprendizagem, foi utilizada uma ferramenta, o QRcode que permite a leitura de textos informativos, fotos e exsicatas de espécies isto é um ramo da planta seca e montada num papel especial e etiquetas com detalhes onde ela foi coletada. Existe defronte ao Palácio uma aleia com Lecythis pisonis, uma ERMA de Auguste Glaziou e outra de Nilo Peçanha do lado direito da alameda.
Auguste François Marie Glaziou, paisagista e botânico francês, aportou no Brasil no século XIX buscando oportunidades de trabalho. Nasceu em 1833 em Lannion, Bretanha, França e foi introduzido à botânica através do ofício do seu pai, um jardineiro.
Em sua formação profissional, como horticultor, botânico e arquiteto, o levaram ao paisagismo. Seus trabalhos atraíram a atenção do Imperador D.Pedro II, que em 1858 o nomeou Diretor Geral de Matas e Jardins do Rio de Janeiro, cargo no qual foi designado para a elaboração de projetos, dentre eles o do Parque da Quinta da Boa Vista.
Em 1868 promove modificações no entorno da residência Imperial onde foram plantados, para ornamentação, espécimes do nosso país e das mais remotas regiões do globo. Representou os espécimes da flora brasileira, congregando-os com as zonas climáticas que habitavam, formando uma “vitrine” da botânica nacional.
Nos 35 anos que Glaziou passou nas terras brasileiras, distribuiu exsicatas de sua coleção entre os principais herbários da Europa e da América do Sul. Este estudioso paisagista iniciou uma incessante procura por novas espécies para plantar nos jardins que cunhava e as de interesse econômico para conhecimento da ciência.
O Museu Nacional (então Imperial) foi criado em junho de 1818. Esta instituição possui no acervo do seu Herbário a coleção deste paisagista. Na Seção de Memória e Arquivo (SEMEAR) estavam depositados cadernos de coleta, notas de compra de vegetais e catálogos organizados por Glaziou, e que foram destruídos pelo fogo em 2 de setembro de 2018.
Tem por objetivo destacar as árvores centenárias plantadas por Glaziou, paisagista do século XIX, que ainda encontram-se na Quinta para estimular e propiciar a cultura da população.
O projeto “Parque da Quinta da Boa Vista: meado do século XIX à atualidade” faz parte do Edital FAPERJ N°15/2018. Para a concepção deste trabalho foi necessário submetê-lo à consulta prévia ao IPHAN-RJ de modo a possibilitar a instalação dos totens com identificação das espécies.
Diretor de Parques e Jardins da Casa Imperial (1869-1889)
(* 30/08/1828 – † 30/03/1906)
Nascido em Lannion, na Bretanha francesa, filho de um horticultor, Glaziou iniciou-se desde cedo no estudo das plantas. Chegou a estudar com grandes botânicos da época no Museu Nacional de História Natural, em Paris, e mudou-se para Bordeaux. A cidade então passava por grandes reformas urbanísticas à semelhança daquelas empreendidas pelo Barão Von Haussman em Paris, com a abertura de avenidas largas, praças, prezando o espaço público como meio de estimular a convivência e fortalecer os laços sociais. Glaziou observava e anotava ideias que tinha para alguns projetos paisagísticos propostos.
Em 1858 vem com sua família para o Brasil em busca de novas oportunidades. O francês acabou conhecendo Francisco José Fialho, homem próximo do Imperador Pedro II e que havia sido designado para as obras de restauração do Passeio Público. Fialho delegou a parte paisagística a Glaziou, e sua contribuição para o parque, reinaugurado em 1867, foi reconhecida pelo Imperador, que o elevou ao cargo de Diretor de Parques de Jardins.
Em 1869 Glaziou apresentou ao Imperador o ambicioso projeto paisagístico da Quinta da Boa Vista. A Quinta era então propriedade imperial onde se localizava a residência oficial da família imperial na cidade, o Palácio de São Cristóvão. A negociação não era fácil – o projeto precisava ser grandioso à altura do lugar, mas precisava lidar com as restrições econômicas impostas aos cofres públicos por conta da Guerra do Paraguai. Mas em 1873 a nova Quinta foi reinaugurada.
Seu estilo paisagístico misturava os traçados sinuosos e naturalistas dos jardins ingleses da época, à uma alusão de simetria e técnica dos jardins franceses. A Aleia das Sapucaias, de frente para o palácio, foi calculada para passar a impressão, quando vista do segundo andar do Palácio, de um caminho “sem fim”, como, por exemplo, acontece nos jardins do Palácio de Versailles, em Paris. Os elementos naturalistas, como pedras e troncos artificiais, foram moldados com ferro e cimento, materiais cuja aplicação no paisagismo eram novidade para a época, e se tornaram marca registrada em outros projetos de Glaziou, como os jardins do Duque de Saxe (demolidos para a construção do atual CEFET, no Maracanã), o próprio Passeio Público, e o Campo de Santana. Os montes de rochas artificiais, os lagos, construídos com a canalização do Rio Joana, e as grutas (moldadas igualmente com cimento imitando pedras e estalactites) tinham o objetivo de proporcionar à família imperial e seus convidados o desfrute de uma natureza perfeita e idealizada.
As plantas eram escolhidas pela sua beleza e simbologia. Glaziou desenvolveu-se como botânico indo a campo e identificando espécies nativas do Brasil com potencial de uso no paisagismo. Atribui-se a ele a introdução ao cultivo de várias espécies brasileiras (o oitizeiro, por exemplo, que a partir de então passou a embelezar diversas ruas e praças da cidade), bem como a introdução de espécies exóticas, que obtinha por meio de intercâmbio com os jardins botânicos de Kew, na Inglaterra, e Paris. Além do jardim, Glaziou solicitou ao Imperador um espaço junto à Quinta para a manutenção de um horto, para o cultivo de milhares de mudas para uso no parque e demais projetos públicos, como a própria Quinta da Boa Vista, o Passeio.
Presidente dos Estados Unidos do Brasil (1909-1910)
(* 02/10/1867 – † 31/03/1924)
Nasceu em Campos dos Goytacazes, norte fluminense. Sua mãe vinha de uma família influente da região, mas largou tudo para viver com seu pai, que era padeiro. Sua origem modesta, e sua raiz africana (seu pai era mulato) sempre eram assunto entre seus opositores, com a intenção de humilhá-lo. Ingressou no Colégio Pedro II, e formou-se em Direito pela tradicional Faculdade de Direito do Recife.
Iniciou sua carreira militando em favor da abolição da escravatura e da instauração da República. Seu primeiro cargo eletivo foi como deputado constituinte em 1890 – a Assembleia Constituinte, formada para formular a primeira Constituição republicana, se reunia então no Palácio de São Cristóvão. Governou o Estado do Rio de Janeiro entre 1903 e 1906, quando foi eleito Vice-Presidente da República. Com a morte do presidente Afonso Penna em junho de 1909, assumiu seu mandato, convocando novas eleições para o ano seguinte. O candidato que apoiava, Venceslau Brás, foi eleito seu sucessor.
A primeira década do Século XX viu o Rio de Janeiro, governado pelo prefeito Pereira Passos (1902-1906), passar por grandes transformações, principalmente no Centro da Cidade, com a abertura de novas vias, largas, arborizadas, e aptas a receber novos e modernos edifícios (como as avenidas Passos, Mem de Sá, Beira Mar, e Central, atual Avenida Rio Branco). Também houve a remodelação de espaços públicos, como a Praça Tiradentes, a Vista Chinesa, e o Campo de São Cristóvão, bem como a construção do Theatro Municipal (concluída na gestão seguinte, em 1909). Enquanto as áreas sob a esfera municipal se transformavam em algo que lembrava a “Belle Époque” parisiense, prédios e parques públicos sob administração federal, como era então a Quinta da Boa Vista, estavam ficando para trás.
Em seu breve período na presidência, Nilo Peçanha ordenou a restauração e reforma do parque da Quinta da Boa Vista, abandonado desde a proclamação da República e desfigurado da concepção original do paisagista Auguste Glaziou. Coordenado pelo Ministro de Obras Públicas, Francisco Sá, e pelo Diretor de Matas e Jardins da cidade, Júlio Furtado, os caminhos foram restaurados e pavimentados, os canteiros foram limpos, árvores mortas foram removidas ou substituídas, o mobiliário reformado. Alguns elementos do parque, como a ponte próximo à entrada do Horto Botânico, e o Pagode Chinês, cujas construções remetem ao estilo de Glaziou (o uso de ferro e cimento moldados para imitar elementos naturais, como pedras e troncos) datam da época da sua reinauguração, em 1910. Algumas árvores plantadas sob orientação do paisagista francês, como as sapucaias, palmeiras imperiais, algumas jaqueiras, tamareiras, e outras, foram conservadas e continuam de pé até hoje.